terça-feira, 16 de agosto de 2011

ArquiPensamentos: Se conselho fosse bom...


“Se conselho fosse bom, não se dava...vendia” é a frase de efeito perfeita que quase sempre antecede um conselho "grátis".
Então é de se pensar, se o ditado for válido, a julgar pelo quão caro saiu o recém-nascido Conselho de Arquitetura e Urbanismo, ele deve mesmo ser ótimo.

Quase 80 anos depois do casamento, finalmente saíram os papéis do divórcio, pedido há meio século. Não seremos mais explorados por engenheiros e agrônomos. Deixemos a tarefa para o Estado (sempre) e para os clientes, (as vezes).

Fim de casamento, terminada a burocracia da papelada, é hora de arrumar a nova casa e dar inicio a nova vida. Bem, e o que muda? Tudo.

Já diriam os filósofos que o que não existe na linguagem não existe no mundo, então a profissão autônoma de arquiteto passa a existir agora no Brasil. Exagero? Não é preciso atuar na área para saber que hoje não se têm a menor idéia do que separa a atuação do arquiteto e do engenheiro. Nós mesmos temos lá nossas dúvidas. 

Então ficamos nessa. Nós mesmos acabamos estabelecendo nossos limites de atuação. Situaçãozinha difícil de definir, quanto mais de explicar para um possível cliente. Realmente perceberemos que caminhamos na direção certa quando essa confusão se tornar algo inimaginável.

Sinceramente dá medo. Tudo ocorreu de forma tão abrupta que inevitavelmente deixou dúvidas. Medo de estarmos criando mais burocracias para processos que antes já eram suficientemente burocráticos. A separação pode deixar marcas profundas nos relacionamentos. Afinal, mesmo sendo profissionais de áreas diversas, nossas atuações estão profundamente ligadas entre si.

E o que mais assusta é que as prioridades que estão sendo estabelecidas, não são lá tão prioritárias nesse momento, como a ampliação de concursos públicos. É lógico que é uma necessidade, mas seria assim tão imediata?Tão propícia para um momento em que temos que cuidar da estrutura do nosso conselho?Vai acabar que só será alterada a quantidade e não a qualidade dos concursos.Eles vão funcionar da mesma forma deficiente que hoje.
Os projetos escolhidos  continuarão sendo: escolhidos à revelia das regras do edital  e se nem dotação orçamentária aprovada existe para a obra, a chance de que saia do papel é sempre pequena; amplamente alterados, com a aprovação ou não dos arquitetos, segundo a vontade do contratante; produzidos em um escritório com boa parte (ou a totalidade) de arquitetos sub-remunerados e não registrados, que trabalham em 3 ou 4 softwares piratas; alvos de prazos esdrúxulos para a entrega, seão pagos meses após o término, e licitados em partes, após passar por amplos cortes direto na planilha, mais uma vez sem supervisão do arquiteto. Aliás o arquiteto responsável passará longe da obra, a menos que se disponibilize a fiscalizar a obra de graça e informalmente.

É difícil começar a cuidar das partes se não temos o todo. Falando em linguagem arquitetônica, não se começa um projeto pelo detalhamento e sim pelo conceito, pelo lançamento do partido geral. Aos poucos reivindicaremos nosso direito de nos encarregarmos da cidade inteira. Por enquanto estamos no fim do ritual de passagem a vida adulta. Afinal, "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades".Saibamos, queridos colegas, administrar essa carga que agora nos é dada.

Não sou pessimista a ponto de dizer que a carga é grande demais. Mas me sinto na obrigação de abrir os olhos dos mais afoitos, que ainda estão "indo na onda" da criação do Conselho. Esta é apenas a primeira vitória, batalhada há muitos anos, mas que vai criar a demanda de muitas outras lutas.

Pois se esse Conselho servir para algo, será para reivindicar os poderes que os arquitetos precisam ter. Poderes que são básicos para qualquer profissão, como o de ser contratado e de ver seus projetos executados fielmente para que possamos ser efetivamente responsabilizados, uma vez que esses projetos virem realidade.

Os primeiros traços do projeto já foram delineados e seu desenvolvimento depende exclusivamente de nós, arquitetos. É como qualquer grande projeto que nos é confiado. Afinal, se a nossa vida é fazer com que as coisas sejam bem planejadas no papel para que possam se tornar realidade, o que me dizem?Vamos construir juntos?

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